Estende-se no céu não um tênue caule, mas um risco com aquela mesma finura.
Veio no ar e veio na montanha – rastros de gente e de pedras ambulantes. Paisagem em movimento.
A furrow in the air and a furrow on the mountain - traces of strolling people and stones. Landscape in motion.
Da mesma forma que em toda praia no hemisfério norte haverá sempre um navio passando, em todo céu haverá sempre um avião. Antes assim, um idílio maculado.
Just as there will always be a passing ship in any beach in the northern hemisphere, there will always be a plane across the sky. Anyway, better to have a marred idyll.
Realmente, o problema da paisagem é o abafamento das vozes e de tudo que não a habita. Por isso vêm os aviões, para fisgar do fundo do avesso do lago quem nele se embrenhou.
Indeed, the problem with the landscape is the silencing of the voices and of everything that does not dwell in it. Thus the planes come, they hook from the opposite of the lake bottom those who plunged into it.
Cruzam-se: os riscos no céu, as pedras e as plantas, o peso e a leveza, a dureza e amaleabilidade, a natureza e os humanos, o ver e o ser. Até que talvez tudo se torne uma coisa só, sem contornos. De fato, tudo começou com o sintoma de tornar-se ínfimo diante de uma paisagem. E terminou sem terminar, terminou sendo. Sendo vôos borboleteando no tempo, que por acaso momentaneamente encontraram-se, atravessaram-se, transpuseram-se.
Intersections: the lines in the sky, rocks and plants, weight and lightness, hardness and softness, nature and humans, seeing and being. Up to a point when maybe everything becomes a single unity without boundaries. In fact, all of this had begun with the becoming insignificant in a landscape. And it ended without ending, it ended up just being. Being flights hovering in time, which momentarily happened to meet, to cross, to pass.
Essa série "Deambulações em volta de um Lago", como já disse em comentário anterior, é muito bonita!
ResponderExcluirParabéns, Dobal.
obrigada, mas quem está aí do outro lado ?
ExcluirLendo Deleuze e Guattari, cuja escrita me lembra a sua, vejo em "O que é a filosofia?" que à filosofia cabe a criação de conceitos e que estes definem-se "pela inseparabilidade de um número finito de componentes heterogêneos percorridos por um ponto em sobrevoo absoluto, a velocidade infinita". (p. 29) Achei que essas palavras tinham a ver com este seu ensaio. Abraço e parabéns. Obs. o anônimo não sou eu. Andrés
ResponderExcluirQue honra, Andrés! Estou em boa companhia pelo leitor atento e tb pq de fato eles fazem parte das minhas leituras. Fico feliz por de alguma forma ter impregnado o que faço com o texto deles. Queria mesmo repetir o mecanismo que faz com que algo como uma mera imagem evoque associações diversas e complementares, uma recíproca elucidação entre as palavras e as imagens. Uma ambição: estar/ver de maneira intensa, pensar por e com imagens.
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