domingo, 21 de agosto de 2011

Teatro da despedida


     Teatro da despedida era o título de um quadro na exposição da Tatiana Blass no anexo cultural da Caixa, em Brasília. Reproduzo aqui detalhes das obras expostas.


     Lá do fundo da sua inquisição canina, uma criatura te olha. A tinta escorre, a cera derretida escorre, não dá para ver, mas a baba do cachorro também escorre.
  

    Era um dia de domingo e todos os domingos poderiam ser “museus do cansaço”. Ruas vazias, estacionamento vazio, galeria vazia. Vazio do cansaço. Cansaço do vazio. No quadro, homens evanescentes trabalham em um museu ou algo assim.


 
     Na parede principal da galeria tinha um quadro; no quadro, uma pista de aeroporto; nela, um detalhe da asa de um avião e em volta alguns cães aguardam e observam o vazio na pista onde a imensa criatura metálica manobra. Outro avião vai partir lá no fundo, no final da pista. A tinta escorre, cansada.

 

     Era outro quadro e camadas de tinta iam apagando o cão. Em outro quadro, camadas de tinta iam apagando homens trabalhando em mesas. Nos títulos, apareciam palavras como museu, despedida, cansaço - cansaço é o vestígio de um vigor que já passou. O cão está sumindo.

  

     Tinha um homem no  chão, derretendo. Títulos vistos de relance: Teatro da Despedida e também Museu do meu Cansaço #9. Digo: #9. Remanescem: as outras oito obras subentendidas, os cães sempre parados e alertas, as figuras em vias de desaparecer sob camadas de tinta. Os aviões continuam no chão.
  



     Tinha um faisão, belo, querendo partir, mas uma linha o mantinha preso ao chão.


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